Modelo Cultural
Poucas épocas como a nossa se viram sujeitas a processos de transformação tão profundos e acelerados, que percorrem da mesma maneira as suas estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais. Esses processos, que têm sido interpretados sob os conceitos da globalização e mundialização, são a causa de uma nova situação planetária marcada por uma profunda complexidade e interdependência. Trata-se de uma nova ordem do mundo que modificou qualitativamente o sistema herdado da primeira metade do século XX, dando lugar a um novo cenário em que são questionados diversos postulados estratégicos, obrigando-nos a um trabalho reflexivo para efeitos de uma melhor compreensão da nova complexidade.
Desse modo, a globalização converteu-se no principal foco de todas as análises. A profunda reorganização da economia mundial gerou mudanças fundamentais tanto no sistema político como nas formas de organização social, sem esquecer a tendência para a homologação das diferentes culturas e concepções de vida, processos acelerados pela planetarização das tecnologias da comunicação.
Em linhas gerais, pode-se afirmar que o aparecimento da sociedade da informação tornou possível uma modificação qualitativa dos processos de aprendizagem, abrindo um novo horizonte para a orientação de métodos e práticas no seio de um smart planet que universalizou o sistema do conhecimento e seus acessos. Trata-se de uma mudança radical dos processos de acesso, apropriação e uso do saber, que modificam os comportamentos de aprendizagem e instrumentalização do conhecimento. A sociedade rede nasce como uma nova utopia, como modelo e projeto para onde tendem as sociedades do futuro.
A adequação para este modelo representa hoje em dia um dos principais desafios de toda a política educativa. Trata-se de induzir, formar, adequar a perceção e as atitudes intelectuais para as condições do saber da nova época. Assim, o IED enfrenta um desafio excepcional para que se articule não só com as grandes mudanças aqui indicadas, como também para que possa comandar as inovações que possibilitem situá-lo em um mapa fortemente competitivo e em que a qualidade da educação será um valor definitivo.
Diversas instituições internacionais apontam atualmente para a centralidade destas mudanças dos sistemas formativos. Trata-se de pôr em jogo processos de liberdade orientados por uma elevada capacidade criativa e associados a uma curiosidade ativa em todos os campos. Esta liberdade permitirá a estudantes e professores conceberem juntos o mapa de uma época que investiga o design, permitindo ampliar o seu campo de intervenção.
De fato, assistimos hoje a uma dilatação progressiva do campo teórico e operacional do design. Os seus programas definem-se hoje em dia a partir de uma relação permeável às grandes transformações dos sistemas da vida da sociedade pós-industrial, marcados principalmente pela homologação cultural e internacionalização da produção. Neste cenário, podemos falar da generalização de novos cultural patterns que acabam por definir os novos modelos de referência simbólica sobre os quais os processos de identidade e diferença do mundo contemporâneo são construídos.
A partir desta perspectiva, deve o IED construir o seu projeto procurando dialogar com os diferentes contextos que derivam de todas estas mudanças. Precisamos nos situar em um novo cosmopolitismo atento às formas de miscigenação cultural nas suas diferentes dimensões e que acaba por ser a base de referência de um futuro capaz de integrar a complexidade das sociedades e culturas. Homi Bhabha fala de cultures in-between, definindo assim o espaço da comunicação social e cultural. Trata-se, como o próprio Bhabha indica, de uma mudança antropológica fundamental, agenciada pelos novos sistemas de comunicação e integração social.
Finalmente o ideário do IED deve estar diretamente relacionado, em termos éticos, com a complexidade do mundo contemporâneo. É urgente assumir uma nova responsabilidade face ao futuro imediato do nosso mundo e humanidade. Deve assumir como seu um ideal moral. Trata-se de construir um novo pensamento crítico que faça seu um novo projeto utópico, que não só pense como também construa aquilo que o pensamento ético-político define como o common, isto é, o bem comum inegociável que é a garantia de uma história humana coerente com a dignidade e os direitos humanos. Trata-se de pensar tanto a cultura do projeto como os processos de formação, partindo de uma perspectiva cosmopolita e ética.
O design se apresentará assim como um dos instrumentos mais significativos no momento de definir as novas formas da cultura. Em sua intenção, pertence, por direito próprio, à cultura do projeto. Nas suas aplicações, é o momento em que se decidem todos os elementos que modernizam não só os usos, como também os gostos, as formas de percepção e até o sistema de necessidades. Toda a reflexão sobre o design acaba por ser uma reflexão sobre as tendências da cultura e os seus projetos.
Ninguém tem dúvidas de que essas reflexões adquirem uma força maior se o contexto que as define for o de culturas como as nossas, submetidas a processos de aceleração e inovação profundos, cujo alcance atravessa todos os domínios da ciência e da vida, da produção e da sociedade. Intervir nestes processos é uma das responsabilidades de quem assume como sua a tarefa da construção das sociedades do futuro.